A Imposição da Língua Norte-Americana no Brasil

Já por décadas, desde a segunda metade do Século XX, a língua portuguesa vem sendo maltratada e desprezada. Em grande parte, devido à submissão ao idioma norte-americano, que se estende pelo mundo Ocidental. Usos e costumes americanos vêm gradativamente modelando a maneira de ser dos brasileiros, incluindo o modo de falar, gesticular e se expressar. Palavras inglesas são adaptados para o português sem qualquer critério gramatical. Criam-se novas raízes linguísticas desafiando nossos filólogos, sendo até incorporadas ao Dicionário de Português.

Nos dois últimos anos, em razão da epidemia, a negação da ortografia da língua portuguesa, pelas chamadas “redes sociais” (um dos piores malefícios à linguística do Século XXI), vem dificultando a prática do diálogo entre as pessoas, exigindo-se apenas a presença de um só interlocutor, isto é, aquele que toma a inciativa da fala. Do pseudo-interlocutor só se ouve laconicamente: ‘Sim’, ‘Entendo’, ‘Não’. A esperança de um diálogo é arrefecida por uma sequência infinita do advérbio ‘Então…’, que costuma ser repetido à exaustão sem que o suposto interlocutor dê continuidade à exteriorização do seu pensamento.

Nos noticiários de televisão – salvo exceções – a utilização do inexistente verbo “Tar”, ao invés de “Estar”, já se tornou rotina. Usa-se até no tempo futuro: “Fulano ‘tará’ aqui amanhã”. Já quanto ao uso das vogais, é comum se observar a pronúncia incorreta do ‘e’ (pronuncia-se ‘i’, exemplo ‘esti’ no lugar de ‘este’, ‘cumeçou ao invés de ‘começou’, etc.. Fala-se errado escreve-se errado‘, antiga máxima, verdadeira e atual. Há grupos de pessoas que só se comunicam – mesmo presencialmente – por meio de mensagens quase cliptografadas pelo celular, sem o qual a pessoa não saberia se expressar. Para que usar a língua portuguesa?

É raro estar diante de pessoas que utilizem a língua portuguesa corretamente. Há preferência explícita pelo idioma norte-americano, que se acha aliado ao seu poder econômico, militar e cultural, até que perca essa posição.

Essa situação se agrava entre os jovens pela troca de mensagens pelo WhatsApp e redes sociais, como bem o destaca Nelson Gobbi em recente artigo publicado no jornal “O Globo”, de 8.8.2021, enfatizando:”…Ao menos se não faz parte do grupo de jovens e adolescentes que cresceu acessando ferramentas de comunicação digitais, como o WhatsApp e as redes sociais, e que está criando novas formas de abreviar a linguagem, em recentes variações do internetês.” Nos últimos anos, a invasão das trocas de mensagens digitais – que constitui um simulacro da informação, contribui para o desmonte e a destruição do vocabulário e expressões linguísticas em geral.

Não se deve esquecer que nesse intercâmbio pode ocorrer a prática de sabotagem das notícias mas essa farsa é logo desmascarada pela divulgação oficial nos veículos de comunicação, como jornais e noticiários de televisão. Ao contrário do que muitos pensam, as redes sociais não têm capacidade para alterar a realidade, pois em parte são notícias falsas (fake news, como dizem), ou suspeitas quanto ao seu conteúdo, o que vem inclusive ensejando até processos criminais.

Há algum tempo, o inglês americano invade o comércio, meios artísticos, a cultura, a propaganda, a moda, e o dia a dia dos brasileiros. Falar corretamente o português não interessa mais aos seus interlocutores. O importante é saber usar a língua americana. Mas nada é definitivo em se tratando da linguística.

Como bem observa Eudes Oliveira*, “Chegando à nossa atualidade, percebemos que o inglês moderno é soberano em todas as áreas culturais, governamentais, sociais e de negócios. Isso amplia seu caráter global quando pensamos que ele foi criado desde o princípio sob bases que tinham em vista o domínio, através de controle do comércio e avanços através de tomadas de territórios.” (1)

Em recente artigo divulgado pela Revista da Babel, o professor James Lane, destaca que ‘As línguas mais faladas no mundo são: inglês, mandarim, espanhol, hindi, árabe, português, bengali, russo, japonês e Punjabi.  Esclarece ainda que no Brasil, ‘para quem deseja ter currículo diferenciado deve-se escolher as línguas faladas em países em que temos boas relações comerciais e diplomáticas’. Neste caso se situam os seguintes idiomas: espanhol (países do Mercosul), inglês e francês (Canadá) e mandarim (China). (2)

Assim, o uso de línguas estrangeiras deve ser criterioso e não impulsivo e alienado, pois cabe a nós fazer a opção sobre a utilidade ou não do uso da língua estrangeira. Se o poder americano quer que adotemos sua cultura e língua, cabe a nós fazer a opção pela nossa liberdade de escolha, preservando nossa cultura linguística e autoestima.

O inglês norte-americano também será superado pela modificação (inevitável) dos fatos históricos que já se avizinham neste 1/4 do Século XXI. É possível que os territórios e países então dominados pelas grandes potências possam reavivar suas culturas, especialmente pelo uso de suas línguas maternas, que são a razão de ser de suas existências.

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Imagem: ‘I want you to speak english’ (Ping PNG Image) Transparent_seeking.com

(1) ‘Por que o Inglês se tornou uma Língua Universal’, no sítio “Incrível História”, em 10/12/2019.

(2) https://pt.babbel.com

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